segunda-feira, 29 de junho de 2009

Tratamento do Linfoma no SUS: não podemos deixar esse assunto morrer.

Prezados,
esta é uma mensagem que me foi enviada pela ABRALE, a associação que propõe-se a educar, informar e lutar pelos direitos dos pacientes e familiares com linfomas e leucemias. Concordo em 100% com esta mensagem.



Até abril desse ano, quando a Ministra Dilma Rouseff foi diagnosticada
portadora de Linfoma, um tipo de câncer muito mais comum do que se
imagina, as pessoas sabiam pouco ou quase nada sobre o assunto.

Uma pesquisa do DataFolha, realizada em 2008, revela que 66% dos
brasileiros nunca sequer ouviu falar nisso, e dados obtidos pela Abrale só
confirmam as estatísticas: de 895 pacientes em tratamento, 87% não faziam
a menor idéia do que era o Linfoma antes de contrairem a doença.

Apesar do burburinho que se formou em volta do assunto, provocado pelo
diagnóstico da Ministra (e, atualmente, da autora da TV Globo, Glória
Perez), pouca gente faz idéia, por exemplo, que o Linfoma mata mais que 3
mil pessoas por ano, o que corresponde a uma média de 8 pessoas por dia.

Outra informação curiosa, que só quem sofre com a doença sabe, é que o SUS
não possui tratamento adequado para o Linfoma e que a lista de
medicamentos para esse tipo de câncer não é atualizada há mais de 10 anos
pelo gorverno. Além disso, muitos médicos da rede pública desconhecem como
diagnosticar e tratar os pacientes, o que diminui substancialmente as
chances de descobrir a doença a tempo de curá-la.

Em poucas palavras, quem não tem dinheiro para arcar com um tratamento em
hospital particular como, felizmente, está fazendo a Ministra Dilma, acaba
por não ter acesso aos medicamentos mais modernos - como o MabThera - que,
combinados com a quimioterapia, garantem índices muito maiores de
recuperação.

Quando diagnosticado a tempo e tratado com os medicamentos certos, os
pacientes com Linfoma tem 95% de chance de cura.

A esperança é que, quem sabe agora, o governo comece a olhar para esse
assunto com outros olhos e recupere os 10 anos de atraso no tratamento da
doença.


Resumindo, o que é o Linfoma:

O Linfoma é um tipo de câncer que se desenvolve principalmente nos
linfonodos (gânglios) do sistema linfático, um dos responsáveis pela
defesa natural do organismo contra infecções. Existem dois tipos: o de
Hodgkin e o não-Hodgkin, que correspondem respectivamente a 20% e 80% dos
casos no Brasil e no mundo.

Como é feito o diagnóstico?

O sintoma mais comum é o aumento indolor dos linfonodos, principalmente no
pescoço, mediastino (região entre os pulmões e o coração), axilas, abdômem
ou virilha. A pessoa pode também ter febre, suor noturno, perda de peso e
coceiras.

E afinal, qual o jeito certo de tratar a doença?

Hoje em dia, o tratamento que oferece a maior chance de cura para os
pacientes de Linfoma não-Hodgkin é uma combinação da quimioterapia
associada a anticorpos monoclonais, os chamados medicamentos inteligentes.
Isso porque eles combatem as células doentes, preservando as sadias.

COMO CADA UM DE NÓS PODE AJUDAR

A única forma de ajudar quem não tem como bancar um tratamento particular
a se curar do Linfoma, é divulgando o assunto e ajudando a mobilizar a
população para que ela exija que o tratamento adequado esteja disponível
para toda a população.

A problema é que o assunto, de um mês para cá, começou a cair no
esquecimento. E para que haja uma resposta do governo, precisamos
mobilizar a opinião pública.

Para mais informações sobre o Linforma, acesse www.abrale.org.br

A associação promove, todo mês, vários eventos para esclarecer a população
e ajudar os pacientes e familiares durante o tratamento.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Linfoma Difuso de Grandes Células B EBV-positivo do idoso

Esta é uma continuação da série sobre a nova classificação dos Linfomas "WHO 2008".

Este é um novo linfoma que surgiu com esta classificação.

Este linfoma ocorre em maiores de 50 anos (não fui eu quem inventou este "idoso" no nome) sem qualquer imunodeficiência ou qualquer outro linfoma associado ao EBV.

Em pacientes com 90 anos, 20%-25% dos casos de linfoma de grandes células B são positivos para o EBV.

Na maioria dos casos, a apresentação é com doença extranodal (pele, pulmão, tonsila, estômago) com ou sem linfadenopatia.

Na morfologia, pode haver um grande número de imunoblastos e células tipo-Reed Sterneberg. Pode haver um importante infiltrado reacional. Necrose é comum. As células costumam ser positivas para MUM1 e negativas para CD10 e BCL-6. O CD30 pode ser positivo.

O EBV é demonstrado pela positividade para LMP1 ou EBNA-2.

A doença é agressiva e o prognóstico ruim.

Linfoma Difuso de Grandes Células B, típico da perna

Esta é uma continuação da série sobre a nova classificação dos Linfomas "WHO 2008".

Provavelmente, este ganha o título de pior nome já escolhido para um linfoma.

Imaginem explicar para um paciente que ele a lesão no braço dele é um "linfoma da perna".

Enfim...

este linfoma representa 20% dos linfomas B da pele e 4% de todos os linfoma da pele. Só para lembrar, o linfoma mais comun da pele é a micose fungóide que é um linfoma T.

Em 85%-90% dos casos, este linfoma realmente está na perna.

Ele se apresenta como lesões arroxeadas ou violáceas em uma ou nas duas pernas. No decorrer da doença, frequentemente se disseminam para outros orgãos.

Na morfologia, eles são compostos de centroblastos e imunoblastos bastante arredondados. Linfócitos pequenos são raros.

A imuno-histoquímica é essencial para a diferenciação em relação ao Linfoma Cutâneo dop Centro do Folículo. As células devem ser positivas para BCL-2, MUM-1 e FOXP1.

A maioria expressa BCL-6.

A sobrevida em cinco anos é de 50%, comparável com os linfomas de grandes células mais agressivos. Tratamentos mais agressivos como transplante autólogo de medula em primeira remissão podem ser tentados, porém não há estudos comparando este tratamento com qualquer outro neste tipo de linfoma.

profilaxia de doença enxerto contra hospedeiro

A doença enxerto contra hospedeiro é a prinicpal causa de mortalidade não associada à recaída da doença de base nos transplantes alogênicos.

É por causa dela que a mortalidade deste tipo de transplante ainda permanece entre 10-20%.

O esquema de profilxia mais tradicional é com ciclosporina e metotrexate.

Por aqui, eles são mais modernos. O esquema é tacrolimus com sirolimus.

Em ambos os casos, quando o doador não é o irmão, se adiciona globulina anti-timócito no esquema.

Por que o tacrolimus? ele tem basicamente os mesmos efeitos colaterias da ciclosporina mas parece ser melhor tolerado pelos pacientes.

Por que o sirolimus? o metotrexate tem potencialmente efeitos colaterais sobre o tubo digestivo. Além disto, o sirolimus é tratamento para linfomas nos quais a via mTOR está particularmente ativa, como no linfoma do manto.

Qual a melhor alternativa? Não sei. Não há estudos comparativos. Hoje, cada centro escolhe aquela com que tem mais experiência.

transplante alogênico em linfomas

Por aqui, existe uma grande experiência em transplante alogênico, aquele no qual o doador é um irmão, em linfoma.

Esta não é a indicação mais comum.

Atualmente, as indicações mais comuns são:
-Leucemias agudas
-Mielodisplasia
-Anemia Aplástica

Entretanto, existe claramente um papel deste tipo de transplante no manejo dos linfomas.

Agora que o grupo a que eu pertenço está autorizado a realizar este tipo de transplante na Clínica São Vicente da Gávea (RJ) pretendo levar para lá o esquema de tratamento que foi desenvolvido por aqui.

Em resumo, o candidato ideal para este transplante é o paciente que teve uma resposta anormalmente curta para o esquema de tratamento inicialmente utilizado, por exemplo uma recaída menos de 2 anos após tratamento de um linfoma folicular com R-CHOP - quando a mediana de recaída está em torno de 5 anos, ou um paciente com um linfoma agressivo que ainda mantenha sensibilidade à quimioterapia.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Linfoma de pulmão (BALT) e dispnéia

Linfoma de pulmão é um grande desafio.

O linfoma primário do pulmão, em geral, é um linfoma bastante indolente, de muito lento crescimento que costuma ser diagnosticado por biópsia. Não raro, o cirurgião faz uma cirurgia extensa na suspeita de câncer de pulmão.

Como resultado, o paciente costuma ter pouquíssimos sintomas, muitas vezes nem precisa de tratamento, mas apresenta uma tomografia de tórax bastante anormal por um misto de cicatrização pós-operatória e linfoma residual.

Assim, uma conduta interessante é guiar o tratamento pela alteração na capacidade de difusão de CO obtida em uma prova de função pulmonar.

Ontem, acompanhei um caso emblemático: uma paciente que tem linfoma de pulmão há vários anos, nunca precisou tratamento e apresentou recentemente dispnéia progressiva sem grandes alterações nos exames de imagem ou na prova de função pulmonar anterior.

Quem optasse por tratar o linfoma erraria completamente. A mulher foi avaliada para doença cardíaca, recebeu o diagnóstico de doença coronariana e recebeu alguns stents para manter suas coronárias abertas.

O melhor de tudo, é que os sintomas desapareceram.

Porttanto, é bom nunca esquecermos que o paciente não é um linfoma ambulante, mas sim um indivíduo com possibilidade de apresentar problemas comuns a pacientes que não tem linfoma.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Radiografias, tomografias e risco de câncer

Hoje, assisti a uma palestra muito interessante sobre radiação associada como exames radiológicos.

Nós, hematologistas e oncologistas gostamos muito de exames radiológicos, radiografias, tomografias, PET-TC,...

Mas, alguém realmente pode dizer qual o risco para o paciente?

Possivelmente não. Sabe-se que o processo pelo qual uma partícula radioativa induz um câncer depende de inúmeros fatores como o tempo de exposição, a dose, a frequência da aplicação, a idade, a massa corporal, a capacidade da célula de "consertar" o dano da radioterapia, a capacidade da células sobreviver ao dano da radioterapia, o número das células em divisão, o tipo de partícula, o ganho de vida do paciente por causa do resultado do exame,etc.

No entanto, existem alguns números interessantes que são expressos em dose efeitva de radiação (mSv):

Abaixo de 100 mSv, provavelmente não há aumento do risco.

Dose de radiação que recebemos por ano: 3-6 mSv

Desitometria óssea: 0.01
Radiografia de tórax: 0.1

Voo ida e volta Nova Iorque-Londres: 0.1

Mamografia: 0.7

Tomografias
tórax 7
abdome 8
pescoço 3
pelve 6
atenuada para o PET 0.72

Contraste radioativo
F-18 FDG (glicose marcada usada para o PET) 8.88

IMPORTANTE: a dose em criaças é 2-3 vezes maior.


Qual a conclusão?

Não sei, mas provavelmente tem algo haver com não fazer exames de imagem em quem não se beneficiará dele, porém jamais evitar fazer o exame baseado em risco, pois ele é muito baixo, exceto em crianças.

Linfoma Primário do Sistema Nervoso Central

Esta é uma continuação da série sobre a nova classificação dos Linfomas "WHO 2008".

Continuamos conversando sobre os linfomas de grandes células. Se quiser ver o restante das postagens, procure aí ao lado em "WHO 2008".

Na nova classificação, pela primeira vez o linfoma primário do SNC foi diferenciado dos demais.

Nesta definição, incluem-se apenas os linfomas intra-cerebrais ou intra-oculares. Linfomas das membranas do cérebro, linfomas que também apresentam-se fora do cérebro e linfomas em imunodeficientes (SIDA, por exemplo) estão excluídos.

Eles representam 2-3% dos tumores cerebrais e a idade de ocorrência é ao redor dos 60anos.

Em 20-40% dos casos, múltiplas lesões estão presentes. Cerca de 20% dos pacientes apresentam doença ocular e, destes, 80-90% vão apresentar linfoma no outro olho e/ou cérebro.

Em relação à morfologia, as células tumorais podem ser difíceis de identificar pois os Centroblastos podem estar diminuidos de tamanho por artefatos de fixação, podem haver áreas de necrose e muitas células reacionais podem estar misturadas. Importante, a infiltração é, em geral, perivascular e o marcador MUM1 está positivo em 90% dos casos.

Este linfoma está no grupo dos linfomas de grandes células de pior prognóstico. Componentes importantes do tratamento são Metotrexate e Citarabina em altas doses. A radioterapia ainda é usada em muitos centros mas existe uma tendência para a diminuição da dose ou , até mesmo, não utilizá-la devido ao excesso de toxicidade neurológica.

O transplante autólogo de medula óssea pode ser uma opção de tratamento do linfoma de sistema nervoso central.

Não é raro que o paciente apresenta recaída do linfoma em áreas fora do sistema nervoso tais como a mama e o testículo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Como preservar a fertilidade e tratar o câncer?

Em geral, o tratamento com quimioterapia prejudica a fertilidade. O mesmo ocorre quando o campo de radioterapia envolve os ovários ou os testículos.

Como a maioria dos pacientes que recebe estes tratamentos já não está em idade fértil, este assunto ficou relegado ao segundo plano.

Atualmente, a curabilidade dos tratamentos está aumentando ano a ano e os pacientes têm todo o direito de se informarem sobre o potencial de esterilidade do tratamento a que estão se submetendo.

O caso do linfoma de Hodgkin é emblemático. Existem dois picos de incidência da doença, em passoas jovens dos 15 aos 30 anos - principalmente mulheres - e em pessoas mais idosas. O tratamento mais utilizado atualmente, o ABVD, foi desenhado justamente para preservar a fertilidade.

O problema é que nunca se sabe se este será realmente o último tratamento (já abordei este assunto em uma postagem anterior).

Quais as opções de tratamento para preservar a fertilidade?

(o assunto discutido a partir daqui foi baseado no artigo "Preservation of Fertility in Patients with Cancer" publicado no New England Journal of Medicine de 26 de fevereiro de 2009)

Mulheres

Congelamento de óvulos maduros ou de embrião :

Estas técnicas exigem uma estimulação hormonal que pode atrasar o tratamento em até um mês. O congelamento de embrião é a técnica clássica, mas obviamente exige que o óvulo colhido seja fertilizado "in vitro", tipo bebê de proveta, para depois ser congelado. O congelamento de óvulos ainda é considerado experimental nos Estados Unidos.

Na ausência de estimulação hormonal, uma possibilidade seria congelar parte de um dos ovários. Este tratamento envolve cirurgia e tem alguns problemas, como a possibilidade de congelar células cancerosas no caso do tumor estar presente na corrente sanguínea.

Homens

O congelamento de esperma é a melhor opção.


Como visto, a primeira coisa a se saber quando se pensa em preservar fertilidade é qual o potencial de esterilidade x prognóstico que sua doença apresenta. Isto, só o seu hematologista poderá responder. A partir daí, o melhor método pode ser escolhido, baseado em um consenso entre o especialista em fertilidade, o seu médico e, o mais importante, você.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Posso pegar sol durante tratamento para câncer com quimioterapia?

Qual o médico que nunca se deparou com esta questão?

A resposta costuma ser simples: NÃO, não se pode expor a pele ao Sol durante e logo após o término do tratamento.

Uma pesquisa mais detalhada pode deixar as coisas menos claras. As drogas utilizadas em quimioterapia que comprovadamente causam problemas após a exposição ao Sol (fotossensibilidade) são: DACARBAZINA, METOTREXATE, VINBLASTINA, FLUORACIL.

Assim, com certeza, se o paciente está em tratamento para Linfoma de Hodgkin a resposta é: FUJA DO SOL !

Mas, se o paciente está em tratamento de um Linfoma não-Hodgkin, a resposta é menos clara.

De qualquer modo, é prudente evitar a exposição com a utilização de filtro solar. Não ir a lugares abertos das 10 hs até as 15 hs. No barato, você estará diminuindo o risco de um câncer de pele. SUA PELE AGRADECE!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

WHO 2008 nova classificação dos linfomas- parte 2- Linfoma de grandes células B rico em histiócitos e células T

Desculpem a demora.
Vamos voltar à nossa série sobre a nova classificação da Organização Mundial de Saúde.
Ela interessa aos onco-hematologistas, patologistas e também aos pacientes.

Lembram do linfoma de grandes células B rico em T?

Podem esquecer.

O nome agora é mais pomposo:

Linfoma de grandes células B rico em histiócitos e linfócitos T.

Ele afeta pessoas de meia idade mas não é raro em jovens.

Frequentemente o acometimento é disseminado com medula óssea, fígado ou baço acometidos.

A doença costuma responder mal aos tratamentos atuais.

Na patologia, só destaco o fato dos linfócitos B neoplásicos não formarem grupamentos mas sim estarem espalhados no meio de um infiltrado em que predominam histiócitos e células T.

Por vezes estas células podem assemelhar-se a células de Reed-Sternberg.

A imuno-histoquímica é obrigatória: o CD30 e CD15 tem que ser negativos, excluindo Linfoma de Hodgkin. O CD68 é positivo nos histiócitos e o CD3 é positivo nos linfócitos T, que são atípicos em geral.

Como já escrevi, estes pacientes não costumam responder bem ao tratamento-padrão. Talvez, esquemas mais intensos possam ser melhor sucedidos mas isto é apenas especulativo.

Abraço a todos e aguardem o próximo capítulo, Linfoma de grandes células primário do SNC.

quarta-feira, 11 de março de 2009

who 2008 linfoma difuso de grandes células B, não especificado

Começaremos pelo mais comum: linfoma difuso de grandes células B (LDGCB)


Definição de grandes células: núcleo mais de duas vezes maior do que o do pequeno linfócito.

É o linfoma mais comum ao lado do folicular, representando 25-40% dos casos.
O diagnóstico costuma ser na sétima década mas pode ocorrer em qualquer faixa etária.

Pode ocorrer por transformação de uma LLC, linfoma folicular, linfoma de zona marginal ou linfoma de Hodgkin subtipo predomínio linfocitário nodular.

O acometimento é extranodal em aproximadamente 40% dos casos e virtualmente qualquer orgão pode ser acometido, no entanto, o predomínio é no estômago e região ileo-cecal.

Importante: o acometimento cutâneo caracteriza outro tipo de linfoma de grandes células (linfoma cutâneo da célula do centro do folículo ou linfoma de grandes células do tipo da perna).

O envolvimento da medula óssea é incomum e predominantemente discordante, ou seja, por pequenos linfócitos. Este tipo de envolvimento não tem qualquer importância prognóstica, ao contrário do envolvimento por grandes células que tem um prognóstico bastante adverso.

Diagnóstico diferencial pela morfologia:
algumas vezes os linfócitos não tem um tamanho tão grande e pode haver confusão com leucemias extramedulares, variante de linfoma de Burkitt ou linfoma da célula do manto variante blastóide.

Variantes morfológicas

Centroblástica, imunoblástica e anaplásica

Não está claro se a variante tem importância prognóstica. Cuidado deve ser tomado em relação à variante anaplásica que pode passar por linfoma de Hodgkin ou linfoma anaplásico de grandes células ou até mesmo carcinomas indiferenciados.

Marcadores de imunofenótipo

Positivo para CD19, CD20, CD22 e CD79a (em geral, se faz o CD20 e se for negativo o CD79a). O CD30 pode ser expresso na variante anaplásica, junto com os marcadores B.
Em cerca de 10% dos casos, as células expressam CD5 e alguns associam-no com pior prognóstico, mas o importante nestes casos é que faz-se diagnóstico diferencial com manto blastóide e assim deve ser demonstrada a ausência de expressão da ciclina D1.

O índice proliferativo pode ser calculado pelo % de células positivas para o Ki67 (MIB-1). Os valores são altos, entre 40% e 80%, mas valores maiores que 90% podem ser encontrados e daí faz-se diagnóstico diferencial com linfoma de Burkitt.

Existem dois subgrupos imunofenotípicos: LDGCB de origem no centro germinativo (CD10+ ou Bcl-6 positivo com MUM1 negativo) e de origem da célula B ativada. Esta classificação não parece ter importância prognóstica, principalmente nos pacientes tratados com rituximabe.

No exame de citogenética por FISH, o MYC está translocado em 10% sendo a mais importante a t(8;14). Em 20% destes casos, co-existe uma translocação do BCL2 (tipo t(14;18)) ou do BCL6, constituindo um subtipo de LDGCB também conhecido como "double hit" caracterizado por um índice proliferativo de mais de 90% e um prognóstico muito ruim com o tratamento padrão.

O índice prognóstico internacional (IPI) formado pelos valores da LDH, status de performance, idade, estadio de Ann Arbor e número de sítios extranodais é muito importante para determinar o prognóstico dos pacientes com os tratamento padrão atual (R-CHOP). Não está claro qual o melhor tratamento para pacientes com IPI de alto risco que têm uma expectativa de cura de 20% em cinco anos. Algumas pessoas favorecem o uso precoce de esquemas de segunda linha e até mesmo o transplante autólogo de medula nesta situação.
O mesmo ocorre para os pacientes com ki-67 elevado.

O tratamento mais utilizado para este linfoma é R-CHOP. Nos casos de recidiva, está estabelecido o papel do transplante autólogo de medula óssea.


Pensa que acabou?

Aguarde as próximas mensagens com os linfomas de grandes células B "especificados".

WHO 2008 Introdução

Prezados,

Poucos ramos da medicina mudam com tanta velocidade quanto o estudo dos linfomas.
Sério, precisaremos nos familiarizar com estranhos nomes como:

Linfoma B, tipo da perna

Linfoma B de grandes células associado com inflamação crônica

Leucemia de células NK agressivas

E outros e mais outros...

Sério, em uma época de tratamentos cada vez mais direcionados para alterações fenotípicas (CD20) ou moleculares (vide o BCR-ABL na LMC e na LLA Ph1), o médico que trata os linfomas deve ter um mínimo de conhecimento de imunofenotipagem e citogenética destas doenças.

Lembrem-se que ao contrário do que ocorre nos EUA, por aqui temos poucos patologistas dedicados à hematopatologia. Assim, olhar apenas para a últimas linha do laudo não me parece a melhor opção. Será que o patologista pediu os marcadores adequados?

Espero nesta série de mensagens prover uma atualização do diagnóstico e, dentro do possível, do prognóstico e tratamento dos linfomas "antigos" bem como dos "novos".

Um abraço,
Rony

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Linfoma de grandes células no seio da face mas no pulmão...mais uma para o PET TC

Paciente com quandro de obstrução nasal. Tomografia mostrou massa em seio maxilar esquerdo. Biópsia = Linfoma de grandes células B.

Estadiamento:
TC imagem mal definida em ápice de pulmção esquerdo.
PET com forte captação em seio maxilar e ápice do pulmão.

Conclusão óbvia: Linfoma de seio da face com disseminação para pulmão, certo?

Errado...

Biópsia do pulmão: infecção fúngica (cocciodiodomicose) - tratamento: fluconazol

Conclusão: querendo ser menos invasivo e admitindo que todo o paciente só pode ter um diagnóstico podemos acabar colocando em risco o resultado do tratamento. É só lembrar a diferença de tratamento e prognóstico de um linfoma de grande células estádio IV (seio da face + pulmão) e estádio I (seio da face). Sem falar em tratar uma micose pulmonar com quimioterapia...

Um abraço,
Rony

Linfoma de Hodgkin em paciente com doença no pulmão (DPOC, tabagista, enfisema, fibrose)

Hoje, assisti a uma interessante discussão sobre o que fazer quando um paciente paciente necessita tratamento para doença de Hodgkin e tem uma pneumopatia.

Trata-se de uma mulher de cerca de 55 anos, HIV positiva, com uma doença volumosa mas restrita a axila esquerda.

Como vocês bem sabem, nos tratamentos mais comuns para Linfoma de Hodgkin, ABVD, Stanford V e BEACOPP existe a bleomicina que é uma droga tóxica para o pulmão e, portanto, contraindicada neste caso.

Os alemãos estão comparando ABVD com AVD para pacientes com doença limitada e favorável, o que não é o caso desta paciente que tem alguns fatores de risco, tipo a idade, a presença do HIV e uma grande massa tumoral na axila.

Depois de alguma discussão, optaram pelo esquema EVA que foi testado em pacientes com Linfoma de Hodgkin avançado (Annals Oncology 2003) com resultados semelhantes ao ABVD. Obviamente, o tratamento será complementado por radioterapia em campo envolvido da axila.

Um abraço.
Rony

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Linfoma de Hodgkin em HIV positivos

Assisti uma palestra do Dr Eric A Engels do National Cancer Institute com o seguinte título:
“Cancer in HIV-infected persons: etiologic puzzles, epidemiologic perils, and prevention”

Destaques da palestra:

1-Além dos 2 tipos de câncer definidores de SIDA, o Sarcoma de Kaposi e os linfomas não Hodgkin agressivos, existem mais alguns tipos de câncer com grande associação com a infecção pelo HIV. São eles: pulmão, linfoma de Hodgkin (LH), fígado, anal e alguns tumores raros de pele.
2-A incidência de LH tem aumentado progressivamente e, curiosamente, é maior nos pacientes que fazem uso de HAART e não há uma relação com a contagem de CD4, ou por outro lado, pode haver um aumento da incidência de LH com maiores contagens de CD4. A melhor hipótese para isto é que a reconstituição imunológica provocada pelos HAART possa ter um papel na fisiopatogenis da doença.

Um abraço e até a próxima.