sexta-feira, 24 de abril de 2009

Radiografias, tomografias e risco de câncer

Hoje, assisti a uma palestra muito interessante sobre radiação associada como exames radiológicos.

Nós, hematologistas e oncologistas gostamos muito de exames radiológicos, radiografias, tomografias, PET-TC,...

Mas, alguém realmente pode dizer qual o risco para o paciente?

Possivelmente não. Sabe-se que o processo pelo qual uma partícula radioativa induz um câncer depende de inúmeros fatores como o tempo de exposição, a dose, a frequência da aplicação, a idade, a massa corporal, a capacidade da célula de "consertar" o dano da radioterapia, a capacidade da células sobreviver ao dano da radioterapia, o número das células em divisão, o tipo de partícula, o ganho de vida do paciente por causa do resultado do exame,etc.

No entanto, existem alguns números interessantes que são expressos em dose efeitva de radiação (mSv):

Abaixo de 100 mSv, provavelmente não há aumento do risco.

Dose de radiação que recebemos por ano: 3-6 mSv

Desitometria óssea: 0.01
Radiografia de tórax: 0.1

Voo ida e volta Nova Iorque-Londres: 0.1

Mamografia: 0.7

Tomografias
tórax 7
abdome 8
pescoço 3
pelve 6
atenuada para o PET 0.72

Contraste radioativo
F-18 FDG (glicose marcada usada para o PET) 8.88

IMPORTANTE: a dose em criaças é 2-3 vezes maior.


Qual a conclusão?

Não sei, mas provavelmente tem algo haver com não fazer exames de imagem em quem não se beneficiará dele, porém jamais evitar fazer o exame baseado em risco, pois ele é muito baixo, exceto em crianças.

Linfoma Primário do Sistema Nervoso Central

Esta é uma continuação da série sobre a nova classificação dos Linfomas "WHO 2008".

Continuamos conversando sobre os linfomas de grandes células. Se quiser ver o restante das postagens, procure aí ao lado em "WHO 2008".

Na nova classificação, pela primeira vez o linfoma primário do SNC foi diferenciado dos demais.

Nesta definição, incluem-se apenas os linfomas intra-cerebrais ou intra-oculares. Linfomas das membranas do cérebro, linfomas que também apresentam-se fora do cérebro e linfomas em imunodeficientes (SIDA, por exemplo) estão excluídos.

Eles representam 2-3% dos tumores cerebrais e a idade de ocorrência é ao redor dos 60anos.

Em 20-40% dos casos, múltiplas lesões estão presentes. Cerca de 20% dos pacientes apresentam doença ocular e, destes, 80-90% vão apresentar linfoma no outro olho e/ou cérebro.

Em relação à morfologia, as células tumorais podem ser difíceis de identificar pois os Centroblastos podem estar diminuidos de tamanho por artefatos de fixação, podem haver áreas de necrose e muitas células reacionais podem estar misturadas. Importante, a infiltração é, em geral, perivascular e o marcador MUM1 está positivo em 90% dos casos.

Este linfoma está no grupo dos linfomas de grandes células de pior prognóstico. Componentes importantes do tratamento são Metotrexate e Citarabina em altas doses. A radioterapia ainda é usada em muitos centros mas existe uma tendência para a diminuição da dose ou , até mesmo, não utilizá-la devido ao excesso de toxicidade neurológica.

O transplante autólogo de medula óssea pode ser uma opção de tratamento do linfoma de sistema nervoso central.

Não é raro que o paciente apresenta recaída do linfoma em áreas fora do sistema nervoso tais como a mama e o testículo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Como preservar a fertilidade e tratar o câncer?

Em geral, o tratamento com quimioterapia prejudica a fertilidade. O mesmo ocorre quando o campo de radioterapia envolve os ovários ou os testículos.

Como a maioria dos pacientes que recebe estes tratamentos já não está em idade fértil, este assunto ficou relegado ao segundo plano.

Atualmente, a curabilidade dos tratamentos está aumentando ano a ano e os pacientes têm todo o direito de se informarem sobre o potencial de esterilidade do tratamento a que estão se submetendo.

O caso do linfoma de Hodgkin é emblemático. Existem dois picos de incidência da doença, em passoas jovens dos 15 aos 30 anos - principalmente mulheres - e em pessoas mais idosas. O tratamento mais utilizado atualmente, o ABVD, foi desenhado justamente para preservar a fertilidade.

O problema é que nunca se sabe se este será realmente o último tratamento (já abordei este assunto em uma postagem anterior).

Quais as opções de tratamento para preservar a fertilidade?

(o assunto discutido a partir daqui foi baseado no artigo "Preservation of Fertility in Patients with Cancer" publicado no New England Journal of Medicine de 26 de fevereiro de 2009)

Mulheres

Congelamento de óvulos maduros ou de embrião :

Estas técnicas exigem uma estimulação hormonal que pode atrasar o tratamento em até um mês. O congelamento de embrião é a técnica clássica, mas obviamente exige que o óvulo colhido seja fertilizado "in vitro", tipo bebê de proveta, para depois ser congelado. O congelamento de óvulos ainda é considerado experimental nos Estados Unidos.

Na ausência de estimulação hormonal, uma possibilidade seria congelar parte de um dos ovários. Este tratamento envolve cirurgia e tem alguns problemas, como a possibilidade de congelar células cancerosas no caso do tumor estar presente na corrente sanguínea.

Homens

O congelamento de esperma é a melhor opção.


Como visto, a primeira coisa a se saber quando se pensa em preservar fertilidade é qual o potencial de esterilidade x prognóstico que sua doença apresenta. Isto, só o seu hematologista poderá responder. A partir daí, o melhor método pode ser escolhido, baseado em um consenso entre o especialista em fertilidade, o seu médico e, o mais importante, você.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Posso pegar sol durante tratamento para câncer com quimioterapia?

Qual o médico que nunca se deparou com esta questão?

A resposta costuma ser simples: NÃO, não se pode expor a pele ao Sol durante e logo após o término do tratamento.

Uma pesquisa mais detalhada pode deixar as coisas menos claras. As drogas utilizadas em quimioterapia que comprovadamente causam problemas após a exposição ao Sol (fotossensibilidade) são: DACARBAZINA, METOTREXATE, VINBLASTINA, FLUORACIL.

Assim, com certeza, se o paciente está em tratamento para Linfoma de Hodgkin a resposta é: FUJA DO SOL !

Mas, se o paciente está em tratamento de um Linfoma não-Hodgkin, a resposta é menos clara.

De qualquer modo, é prudente evitar a exposição com a utilização de filtro solar. Não ir a lugares abertos das 10 hs até as 15 hs. No barato, você estará diminuindo o risco de um câncer de pele. SUA PELE AGRADECE!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

WHO 2008 nova classificação dos linfomas- parte 2- Linfoma de grandes células B rico em histiócitos e células T

Desculpem a demora.
Vamos voltar à nossa série sobre a nova classificação da Organização Mundial de Saúde.
Ela interessa aos onco-hematologistas, patologistas e também aos pacientes.

Lembram do linfoma de grandes células B rico em T?

Podem esquecer.

O nome agora é mais pomposo:

Linfoma de grandes células B rico em histiócitos e linfócitos T.

Ele afeta pessoas de meia idade mas não é raro em jovens.

Frequentemente o acometimento é disseminado com medula óssea, fígado ou baço acometidos.

A doença costuma responder mal aos tratamentos atuais.

Na patologia, só destaco o fato dos linfócitos B neoplásicos não formarem grupamentos mas sim estarem espalhados no meio de um infiltrado em que predominam histiócitos e células T.

Por vezes estas células podem assemelhar-se a células de Reed-Sternberg.

A imuno-histoquímica é obrigatória: o CD30 e CD15 tem que ser negativos, excluindo Linfoma de Hodgkin. O CD68 é positivo nos histiócitos e o CD3 é positivo nos linfócitos T, que são atípicos em geral.

Como já escrevi, estes pacientes não costumam responder bem ao tratamento-padrão. Talvez, esquemas mais intensos possam ser melhor sucedidos mas isto é apenas especulativo.

Abraço a todos e aguardem o próximo capítulo, Linfoma de grandes células primário do SNC.