terça-feira, 26 de janeiro de 2010

a nova esperança de cura para a leucemia - ou - como melhorar o resultado do transplante de cordão

Prezados,
ultimamente fomos bombardeados pela grande notícia do surgimento de uma "nova esperança para o tratamento das leucemias".
No último Fantástico, por exemplo, a notícia apareceu.

Como sou meio São Tomé fui verificar o que foi publicado na Nature Medicine.

Os autores são ótimos pois pertencem ao maior centro de transplante de medula do mundo, que é o Fred Hutchinson Cancer Center em Seattle.

Aí vai o trabalho:

Qual é o problema atual?

O sangue do cordão umbilical é uma ótima fonte de células para transplante, entretanto, a quantidade de sangue coletado é muito pequena, cerca de 10 vezes menor do que a de uma medula coletada de um adulto. Os problemas que surgem desta discrepância são vários, mas o artigo destaca a maior demora na recuperação da defesa contra infecções o que ocasiona um maior risco de morte.

Uma forma de amenizar isto é aumentar o número de cordões por transplante para dois. Na prática, o número de células continua muito menor.

Qual o objetivo do estudo?

Tentar aumentar a quantidade de células no laboratório para possibilitar a diminuição do período de imunidade baixa.

Como foi feito?

Em resumo, eles estimularam a multiplicação das células utilizando uma substância denominada NOTCH.

Quais foram os resultados?

Os pesquisadores conseguiram multiplicar as células e o resultado foi testado em cerca de 10 pacientes com sucesso.

Limitações do estudo:

A técnica ainda não está disponível comercialmente e foi testada em um número muito pequeno de pacientes de um hospital de ponta. Será que é possível repeti-la por aqui?


Conclusão:


Esta técnica permitirá um maior número de transplantes.
Novos medicamentos precisam ser desenvolvidos para curar os pacientes sem a necessidade deste procedimento.
No Brasil, o transplante de cordão ainda é incipiente. Temos muito o que melhorar.

Um forte abraço.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Transplantes em linfomas

Qual as diferenças entre o transplante autólogo e o alogênico?

O transplante autólogo é muito útil para linfomas que têm um comportamento mais agressivo. Esta definição é um tanto subjetiva mas existem situações onde não existe mais muita dúvida da sua indicação, principalmente porque o sucesso com a quimioterapia convencional é muito limitado.

O paciente que é portador de linfoma de Hodgkin tem uma chance de cura bastante alta com o primeiro tratamento, seja ele ABVD, stanford V, C-MOPP/ABV com ou sem radioterapia, mas, no caso de este primeiro tratamento não ter sucesso, a chance de uma cura com quimioterapia fora do transplante é menor do que 20% mas com o transplante pode chegar a 60-70%.

O mesmo pode ser falado do linfoma difuso de grandes células, que é o linfoma mais comum.

O linfoma da célula do manto, que é um linfoma particularmente resistente à quimioterapia, também pode ser erradicado por longo tempo com este transplante.

O que é o transplante autólogo?
1- não há nenhuma cirurgia envolvida
2- a "medula" é colhida através da veia do paciente.
3- a quimioterapia é de altas doses.
4- os maiores riscos se devem aos efeitos colaterais do quimioterapia e são, basicamente, infecções, sangramentos e anemia.

Já no transplante alogênico, existe uma mortalidade relacionada ao procedimento bem mais alta do que no autólogo apesar de não usarmos altas doses de quimioterapia na maioria das vezes.

No entanto, o transplante alogênico oferece algo que NENHUM tratamento pode oferecer para os linfomas menos agressivos.

A possibilidade de CURA.

A questão é saber em que situações o risco de uma morte prematura por complicações do transplante é um risco a ser corrido diante da possibilidade de cura.

O mais dramático é que esta opção deve ser escolhida precocemente para melhorar as chances do paciente.

Apenas como exemplo, há cerca de 10 anos, a maior indicação para este tipo de transplante foi a leucemia mielóide crônica. Os pacientes sem possibilidade de fazer o procedimento eram tratados com interferon ou bussulfan. Quando os dois grupos foram comparados, a vantagem do transplante só ficou evidente a partir de 8 anos da realização do procedimento.

Daí, o pensamento de que quanto mais jovem o paciente maior será o benefício do transplante.

Na minha opinião, a melhor indicação de transplante alogênico em linfomas hoje seria o paciente jovem e com boa saúde que é portador de linfoma folicular ( o segundo mais comum) que teve uma curta resposta a uma quimioterapia (em geral, menos de 3 anos de remissão).

Um abraço,

Rony

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

transplante alogênico, autólogo e linfomas

Olá amigos,

Na mensagem anterior, procurei diferenciar os dois tipos de transplantes que estão na lista da ANS como procedimentos obrigatórios para os convênios e seguros-saúde.

Hoje, falarei das principais indicações:

Transplante autológo (auto-transplante)- mieloma múltiplo, linfomas agressivos que não responderam bem ao primeiro tratamento (difuso de grandes células, Burkitt, Hodgkin), alguns linfomas mais raros como parte do tratamento inicial (linfoma da célula do manto, linfoma T periférico, angio-imunoblástico) e alguns linfomas menos agressivos em situações especiais (linfoma folicular). Além disto, este tipo de transplante também tem sido usado em tumores de células germinativas. Uma área muito promissora, mas ainda em fase de testes, é a das doenças auto-imunes tais como a esclerose múltipla.


Transplante alogênico

Leucemias Agudas
Anemia aplástica
Leucemias crônicas em situações especiais
Mielofibrose
Mielodisplasia
Linfomas que recaem após o transplante autólogo ou pacientes que não podem fazer o autólogo como pacientes os quais não conseguimos coletar medula e outros em que a medula está tão contaminada por linfoma que não vale a pena coletá-la. Os tipos de linfoma onde este tratamento vem sendo feito são os linfomas foliculares, macroglobulinemia de Waldestrom, linfoma de Hodgkin e outros menos frequentes.

Esta é apenas uma lista simplificada. É claro que uma cuidadosa análise caso a caso é essencial para a segurança do tratamento.

domingo, 17 de janeiro de 2010

Transplante de medula entre irmãos agora tem cobertura obrigatória - o que os linfomas tem a ver com isto?

Prezados,

Depois de algum tempo em que não encontrei tempo para atualizar este blog, espero retomá-lo com a mesma força de antes, agora já em terras brasileiras.

Creio que é uma boa hora para explicar o que pode mudar para as pessoas com linfomas, agora que a ANS colocou o transplante de medula entre irmãos, também conhecido com transplante alogênico, na lista de procedimentos com cobertura obrigatória.

Primeiro, vamos diferenciar os tipos de transplante:

1-O transplante autólogo ou auto-transplante é um procedimento que já tem cobertura há alguns anos. Neste tipo de transplante, as células-tronco do paciente são colhidas usualmente do sangue e estocadas na forma congelada. Os pacientes são submetidos então a uma quimioterapia de altas doses e, em seguida, recebem as células de volta para recuperar a função da medula.

2-No transplante entre dois indivíduos ou alogênico, a medula pode ser coletada de um dos irmãos (neste caso o transplante é aparentado) ou de um doador voluntário que tenha uma medula compatíve (transplante não aparentado). O paciente pode receber uma quimioterapia de altas doses (transplante mieloablativo) ou de doses menores (não-mieloablativo ou de intensidade reduzida).

Os dois tipos de transplante funcionam de forma bem diferente. No auto-transplante, como já dito, a medula colhida basicamente encurta o tempo em que o indivíduo ficará sem as defesas imunológicas e, portanto, suscetível a infecções.

No transplante alogênico, as células do doador podem reconhecer as células do receptor, inclusive as células malignas, como "inimigas" e atacarem elas em um efeito denominado reação enxerto-contra-linfoma (no caso da doença ser atacada) ou de enxerto-contra-hospedeiro (no caso do ataque ser contra órgãos do receptor, tais como pele ou intestino). Outra vantagem deste transplante é que a medula não tem nenhum tipo de contaminação com células malignas, pois foi retirada de outra pessoa.

O procedimento que foi colocado na nova lista da ANS foi o transplante alogênico aparentado.

E eu, o que tenho a ver com isto?

Bem, eu participo de uma equipe que já faz transplantes autólogos no Rio de Janeiro há mais de 6 anos.

Também tive a honra de ter contribuido para que a Clínica São Vicente da Gávea tenha sido autorizada a realizar o transplante entre parentes há cerca de um ano e pretendo realizar este transplante juntamente com os meus colegas agora que os seguros-saúde terão que autorizá-los.

Mas, este blog é sobre linfomas.

E é sobre o uso do transplante como tratamento dos linfomas que falaremos nas próximas postagens.

Basta dizer que mais da metade dos transplantes alogênicos realizados no Memorial Sloan-Kettering de Nova Iorque são em linfomas.

Um forte abraço.