domingo, 13 de junho de 2010

Novidades em Linfoma - Congresso Americano de Oncologia Clínica (ASCO)

Prezados,

O Congresso americano ocorreu há cerca de uma semana atrás e neste final-de-semana está acontecendo o Congresso Europeu de Hematologia sobre o qual desejo escrever oportunamente.

Em relação aos americanos, apareceram algumas novidades interessantes. Vamos a elas:

Estudo mais esperado:

"Rituximab maintenance for 2 years in patients with untreated high tumor burden follicular lymphoma after response to immunochemotherapy"
G. A. Salles e cols.

Este é o estudo PRIMA, cujos resultados são esperados há cerca de dois anos, pelo menos.

O tratamento atual mais indicado para o linfoma não-Hodgkin Folicular inclui o uso de um anticorpo conhecido como rituximabe (Mabthera) associado com uma quimioterapia.

Há cerca de três anos, dois estudos demonstraram independentemente que, em pacientes com recaída de linfoma folicular, a administração de rituximabe após um segundo tratamento (manutenção) era melhor do que uma simples observação.

No entanto, este achado acabou sendo extrapolado para pacientes em primeiro tratamento, o que não é cientificamente acertado, pois até então não havia estudo com este tipo de paciente.

Pois bem, no estudo PRIMA, foram incluídos 1217 pacientes com linfoma folicular recém-diagnosticado.

Estes pacientes foram tratados com uma combinação de 8 doses de rituximabe com 8 doses de quimioterapia a escolha dos investigadores (poderia ser CHOP, COP ou FCM).

Os pacientes que tivessem uma boa resposta foram separados (randomizados) em dois grupos: em um deles nada foi feito (observação) e no outro foi feita uma dose de rituximabe a cada oito semanas por dois anos (manutenção).

A quantidade de pacientes que tiveram piora ou re-aparecimento da doença ao final de dois anos foi de 18% no grupo que fez manutenção contra 34% no grupo que fez observação, o que foi uma diferença significativa quando usados testes estatísticos adequados.

O outro lado da moeda foi que houve 22% de infecções no grupo de observação e 37% no grupo manutenção.

Para mim, esta questão ainda não está resolvida porque não se sabe ainda qual o impacto deste maior número de recaídas em relação à sobrevida dos pacientes. O linfoma folicular é uma doença crônica e costuma responder bem a outros tratamentos. Talvez, nos pacientes mais jovens, eu seja tentado a fazer a manutenção daqui para frente mas, francamente, tenho medo deste excesso de infecção quando trato pacientes idosos.

Creio que o melhor é esperar os anos passarem para vermos se realmente os pacientes que recebem doses de manutenção vivem mais (e melhor) do que aqueles que não recebem-na.
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Agora, uns curtinhos:

"Randomized study of rituximab in patients with relapsed or resistant follicular lymphoma prior to high-dose therapy as in vivo purging and to maintain remission following high-dose therapy"
R. Pettengell e cols.

Neste importante estudo, 280 pacientes com linfoma folicular foram submetidos a um transplante autólogo de medula. A grande maioria tinha recaído após um tratamento anterior.
A pergunta básica foi:
Adianta fazer rituximabe antes do transplante?
Adianta fazer rituximabe após o transplante?
O resultado foi que os pacientes que fizeram o rituximabe após o transplante (manutenção) tiveram um resultado melhor do que aqueles que não fizeram.
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"Effect of early chemotherapy intensification with BEACOPP in high-risk, interim-PET positive, advanced-stage Hodgkin lymphoma on overall treatment outcome of ABVD"
F. Fiore e cols.

O PET (tomografia por emissão de pósitrons, sob a forma de glicose) é um exame que desde a semana passada tem cobertura obrigatória por parte das operadoras de planos de saúde.
O paciente com linfoma de Hodgkin que tem um PET positivo após o segundo ciclo de quimioterapia parece ter uma maior chance de recaída e não-resposta ao tratamento habitual que é uma quimioterapia chamada ABVD.
Existe uma outra quimioterapia chamada BEACOPP intensificado que parece ser mais eficaz que o ABVD, mas tem muito mais efeitos colaterais.
Neste trabalho, os pacientes começaram o tratamento com ABVD e, após dois ciclos, mudaram para o BEACOPP se o PET estivesse positivo.
Infelizmente, esta estratégia foi mal sucedida já que houve muito mais recaída e progressões de doença no grupo com PET positivo. Novas formas de tratamento devem ser exploradas para estes pacientes.