quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Avanços relevantes do Câncer em 2010

Relatório anual sobre o progresso contra o câncer da Sociedade Americana de Oncologia Clínica
(Journal of Clinical Oncology 2010;28:5327-47)

Estimativa de novos casos de câncer nos EUA em 2010
Pulmão e brônquio 222.520
Próstata 217.730
Mama 209.060
Intestino grosso (Colon) 102.900
Linfoma 74.013
Bexiga 70.530

Principais avanços no tratamento do câncer em 2010

Câncer de pulmão

A mesma quimioterapia que é benéfica para pacientes jovens (carboplatina com paclitaxel) também beneficia os idosos com câncer avançado.

Um inibidor do gene ALK (crizotinibe) demonstrou atividade em mais de 90% dos pacientes que tinham esta mutação no tumor.


Câncer de pâncreas

Foi demonstrado pela primeira vez, que uma quimioterapia prolonga a vida de pacientes com câncer de pâncreas metastático. Trata-se de uma combinação de fluoracil, ácido folínico, irinotecam e oxaliplatina.

Câncer de ovário
Um medicamento que inibe a formação dos vasos sanguíneos do tumor (bevacizumabe) prolongou a vida de mulheres com câncer de ovário avançado, quando associado com uma quimioterapia.

MelanomaPela primeira vez, uma medicação prolongou a vida de pacientes com melanoma avançado. Esta droga, denominada ipilimumabe, é um anticorpo que ativa o sistema imune dos pacientes.


Câncer de mama
Um tratamento mais rápido com radioterapia foi tão eficaz quanto um longo.


Linfomas

Linfoma folicularA combinação de bendamustina (inexistente no Brasil) com rituximabe foi melhor do que CHOP com rituximabe.


No estudo PRIMA, foi demonstrada a redução da taxa de recaída nos pacientes que foram tratados com CHOP e rituximabe, obtiveram alguma resposta e depois complementaram o tratamento com uma dose de rituximabe a cada 3 meses por dois anos.

Novas drogas para o câncer aprovadas nos Estados Unidos em 2010

Romidepsina - linfoma T de pele

Pralatrexate - linfoma T periférico

Ofatumumab - leucemia linfocítica crônica com pouca resposta à fludarabina e alemtuzumabe

Cabazitaxel - câncer de próstata

Sipuleucel-T - câncer de próstata

Pazopanib - câncer renal avançado

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Congresso Americano de Hematologia dez 2010 Melhores Trabalhos

Prezados,

Aqui estou eu depois de algum tempo.

Venho com dois assuntos para vocês.

Agora, vamos ao primeiro.

Americanos são viciados em listas de melhores.
Brasileiros são viciados em listas de melhores.

Pois bem, eu também gosto muito de listas de melhores.

Que tal a minha lista dos mais relevantes trabalhos sobre linfoma do último Congresso Americano?

Inicialmente, vamos às ressalvas:

1- como são apresentações de congresso, não passaram pelo escrutínio de seus pares, o que acontece em trabalhos inteiros publicados.

2- muitos apresentam os resultados preliminares do estudo. Estes resultados podem se modificar até a conclusão do mesmo.

3- por isto, é quase impossível uma modificação de conduta médica baseada em resultados de Congressos.

Na minha opinião, o Congresso deste ano não trouxe grandes novidades. Um ponto a destacar talvez seja a distância cada vez maior entre as opções de tratamento aqui e lá, mas isto é papo para o próximo post.

And the winners are...


Trabalho No 6

An Intergroup Randomised Trial of Rituximab Versus a Watch and Wait Strategy In Patients with Stage II, III, IV, Asymptomatic, Non-Bulky Follicular Lymphoma (Grades 1, 2 and 3a). A Preliminary Analysis.

Teoricamente, este foi o melhor trabalho de linfoma do Congresso. Sabemos disto porque os 6 primeiros trabalhos são apresentados na Sessão Plenária do Congresso.
Mas, como vocês já notaram, trata-se de uma análise preliminar, o que não é muito auspicioso.

Pacientes portadores de linfoma folicular muitas vezes não são tratados, basicamente porque não dispomos de medicações de baixa toxicidade que comprovadamente influenciem na sobrevida deles.
Neste estudo, pacientes que seguiriam esta política de observação sem tratamento foram divididos em dois grupos. Um dos grupos seguiu esta política (grupo a) enquanto o outro grupo recebeu rituximabe (Mabthera) por dois anos (grupo b).
Ao final de 3 anos, mais de 50% dos pacientes do grupo A foram tratadas (com quimioterapia em 85% dos casos) enquanto, no grupo B, menos de 10% receberam qualquer tipo de novo tratamento.

Não estou bem certo se isto vai causar alguma mudança no tratamento do linfoma folicular, já que a sobrevida global nos dois grupos foi a mesma, mas a possibilidade de evitar-se quimioterapia me parece bem interessante.


Trabalho 109

A Prospective Randomized Study Comparing Dose Intensive Immunochemotherapy with R-ACVBP vs Standard R-CHOP In Younger Patients with Diffuse Large B-Cell Lymphoma (DLBCL). Groupe d’Etude Des Lymphomes De l’Adulte (GELA) Study LNH03-2B

O tratamento do linfoma difuso de grandes células é com uma quimioterapia chamada CHOP em todos os lugares do mundo, menos um: a França. Lá existe um esquema bem agressivo e complicado chamado ACVBP.
Neste trabalho eles compararam os dois tratamentos em pacientes jovens com este tipo de linfoma e os resultados foram bem melhores que no grupo que usou CHOP (91% sem nenhuma doença após 3 anos do tratamento contra 80% no outro grupo).
A questão é que os efeitos colaterais são muito maiores e não sei se compensam o ganho de 11%. Melhor seria identificar qualquer o paciente que responde realmente mal ao CHOP em melhor ao outro. Enfim, esperemos o artigo publicado.

Trabalho 283
Results of a Pivotal Phase 2 Study of Brentuximab Vedotin (SGN-35) in Patients with Relapsed or Refractory Hodgkin Lymphoma

Tratar o linfoma de Hodgkin depois da recaída é difícil. Muitos se beneficiam do transplante autólogo de medula mas os outros tem que conviver com a doença e em tratamento praticamente contínuo. Pois bem, surgiu esta droga SGN-35 que é formada por um anticorpo contra a célula maligna do Hodgkin amarrado a um "veneno".
Os resultados são estarrecedores.
Houve redução da doença em 95% dos pacientes.
Acho que esta droga será liberada para tratamento nos EUA em 2011. No Brasil......

Agora, dois trabalhos gêmeos;

Trabalhos 415 e 416

A Randomized Phase III Trial of ABVD Vs. Stanford V +/- Radiation Therapy In Locally Extensive and Advanced Stage Hodgkin's Lymphoma: An Intergroup Study Coordinated by the Eastern Cooperatve Oncology Group (E2496)Clinically Relevant

Randomized Phase III Trial Comparing ABVD + Radiotherapy and the Stanford V Regimen In Patients with Stage I/II Bulky Mediastinal Hodgkin Lymphoma: A Subset Analysis of the US Intergroup Trial E2496

O tratamento do linfoma de Hodgkin inclui uma quimioterapia chamada ABVD. Muitos outros esquemas foram desenvolvidos. Entre eles, um dos mais promissores foi o Stanford V. Ele se diferencia do ABVD porque é mais curto, tem menos quantidade de doxorrubicina que é um remédio que faz mal ao coração e de bleomicina que pode fazer mal ao pulmão. Entretanto, ele tem um problema que é usar mais radioterapia.

No primeiro trabalho, os dois tratamentos foram comparados e não houve diferença, exceto por maior diminuição de linfócitos e maior problema de formigação e dormência com o Stanford V.
No segundo trabalho, apenas os pacientes com grande massa de doença, isto é maior do que 10 cm foram analisados. Isto porque nos Estados Unidos, a maioria deles receberia radioterapia independente do tratamento. Mais uma vez, os resultados foram semelhantes.
Como a tendência tem sido diminuir com a radioterapia (principalmente se for possível fazer o PET), o Stanford V não parece ter serventia. Não podemos esquecer no entanto, dos pacientes com problemas cardíacos ou pulmonares, quando o Stanford V pode ser melhor do que o ABVD pela menor toxicidade nestes órgãos.


Trabalho 685
No Benefit of First-Line Rituximab (R) - High-Dose Therapy (R-HDT) Over R-CHOP14 for Young Adults with Diffuse Large B-Cell Lymphoma. Preliminary Results of the GOELAMS 075 Prospective Multicentre Randomized Trial

Lá vamos nós com resultados preliminares de novo.
Neste caso, duas estratégias foram comparadas em pacientes com linfoma difuso de grandes células. Um grupo foi tratado de forma bem agressiva, incluindo transplante autólogo de medula enquanto o outro foi tratado com o esquema habitual R-CHOP só que aplicado a cada 2 semanas e não 3 como é o habitual.
Bem, como vocês podem ver no título, não foi melhor usar o tratamento mais agressivo.
O transplante autólogo persiste uma terapia para os casos de recaída.

Menção Honrosa:

Trabalho 4136
Elevation of Serum Free Light Chains Are Common In Lymphoma and Associated with Poor Event Free and Overall Survival

Como vocês podem notar pelo número do trabalho, ele ficou para apresentação na forma de pôster o que, em tese, denota uma menor importância em relação aos anteriores. No entanto, esta foi a opinião dos julgadores do Congresso e eu não tenho nada com isto. Achei o trabalho bem legal.
O teste de cadeia leve livre no sangue é rotineiro para mieloma múltiplo por exemplo e já existe no Brasil.
os pesquisadores compararam resultados normais e anormais deste teste em 1118 tipos de linfoma e demonstraram que quem tinha valores altos do teste, tinha um pior prognóstico em todos os tipos de linfoma. Por exemplo, no linfoma difuso de grandes células, eles tinham em média mais que o 2,5 vezes mais chance de recair.
Será que este teste vai entrar na prática? Eu não sei. Até porque não sabemos o que fazer com pacientes que têm o teste alterado. No entanto, achei muito criativo o trabalho.

É isto aí.

Espero que tenham gostado. Os resumos estão disponíveis gratuitamente na Internet no site da Sociedade Americana de Hematologia (www.hematology.org)

Um abraço e até a próxima com os maiores progressos do ano de 2010 na opinião da Sociedade Americana de Oncologia Clínica.